make it green
PERGUNTA. Fale-nos do seu despertar criativo no mundo da fotografia analógica.
RESPOSTA. Apesar de os meus pais não serem de Menorca, tive o privilégio de nascer e viver na ilha até aos 17 anos, numa casa com vista para o porto de Maó. Cresci a ver o mar e isso permeou a minha identidade artística. Desde que era pequena, a minha mãe sempre me ajudou muito a concentrar-me nos detalhes (e ela ainda o faz), por isso é que acho que as minhas fotografias não captam planos gerais, mas sim momentos.
Lembro-me muito bem da altura em que comecei no mundo da fotografia, aos 16 anos. Tornei-me amiga de uma rapariga que estudava artes, que tinha uma câmara reflex, e emprestou-ma durante uns dias para eu a experimentar. Comecei a tirar fotos aos meus amigos na praia, mais ou menos criativas, e adorei a experiência. Um tempo depois, um amigo meu encontrou uma câmara analógica e ofereceu-ma, e a partir daí fui aprendendo com tentativa e erro.
P. Cresceu em Menorca e agora vive em Maiorca. No seu trabalho, nota-se que o Mediterrâneo é uma grande fonte de inspiração. Que significado tem para si?
R. A paisagem ajuda, mas o que mais gosto no Mediterrâneo e nas Ilhas Baleares é o facto de terem uma luz super especial que não se encontra em qualquer lado. Vivi em muitos países e custou-me encontrar uma luz tão extraordinária como a que temos aqui. No fundo, apercebo-me de que, quando vivi fora, o meu corpo pediu-me sempre para voltar às ilhas, tenho uma ligação muito forte com esta terra.
Estudei em Madrid, depois em Barcelona, passei algum tempo na Argentina e acabei por viver no México durante três anos, na Cidade do México e em Oaxaca. E apesar de também serem cidades muito inspiradoras no que diz respeito à sua vida cultural e à cor das suas ruas, não encontrava a minha essência. Foi por isso que voltei.
P. Que outros cenários a inspiram na hora de tirar fotografias?
R. Inspiro-me muito nas imagens mais quotidianas que encontro quando viajo: as pessoas nos mercados ou a cozinhar. Captar a essência de um país através da gastronomia, por exemplo. Não procuro ir à montanha mais alta para captar a melhor paisagem, nem forçar um cenário artificial, mas sim mostrar o natural e o imperfeito.
Há uns anos, se no espaço encontrasse algum elemento de que não gostasse esteticamente, tirava-o de lá para tirar a fotografia, mas agora costumo deixá-lo, não gosto de alterar a realidade.
P. Como é o seu dia a dia em Sóller?
R. Viver na serra de Maiorca é extremamente inspirador em muitos sentidos. É uma zona onde não chegou o turismo em massa. A vida é muito mais tranquila nesta parte da ilha.
Uma das coisas que adoro em Maiorca é que não há vida só no verão. No inverno, do nada, podemos montar um piquenique completamente sozinhos na praia, e alucinamos com toda a beleza à nossa volta. Passo o inverno a explorar a ilha, à procura de novas localizações. Raramente preciso de ir a Palma, transformei-me numa velha jovem, mas adoro. Nas cidades, estamos sempre a comprar coisas de que não precisamos, deixamo-nos levar pelas modas, temos de apanhar táxis para não chegar atrasados, ou comer fora porque não pudemos cozinhar. Na aldeia, é tudo muito mais tranquilo, ando sempre a pé porque fica tudo perto, saio para passear com a câmara e vejo o que aparece.
P. Acha que a fotografia analógica também é um processo artesanal?
R. Nunca levantei essa questão, mas agora que penso nisso, é isso mesmo. A fotografia analógica é muito artesanal, porque é um processo mais lento, que tem de realizar com mais cuidado, visto que não pode modificar a foto, ou repetir, se não gostar. Com uma câmara analógica, não pode tirar 300 fotos para depois selecionar algumas, como acontece com as digitais. Acho que tem algo de mágico, esperar que as fotos sejam reveladas e não saber como será o resultado final.
Não descarto o digital a 100%. Nalguns projetos mais técnicos, preciso de usar uma câmara digital, porque o objetivo não é tão artístico.
P. Para além das fotografias, nos seus projetos também desenha os espaços. ¿Que elementos são precisos para comunicar os valores do slow living?
R. Não me concentro tanto na capacidade fotográfica ou na perfeição na técnica. Simplesmente gosto de criar uma atmosfera concreta, toda a curadoria que existe por detrás da foto. Adoro criar espaços simples, que não estejam sobrecarregados, com elementos naturais e artesanais.
Dou muito valor ao que é feito à mão: todas as cerâmicas que tenho em casa foram feitas por mim ou por oleiros que conheço. Além disso, quase todos os meus móveis foram comprados em lojas de antiguidades.
P. Que importância tem, para si, a sustentabilidade e o consumo responsável?
R. A sustentabilidade é fundamental no meu trabalho, pois sei que, se não cuidarmos do planeta, no futuro pode desaparecer o que eu mais gosto neste mundo, estas ilhas. Já é algo que me sai de forma natural, pensar no meio ambiente em todas as minhas pequenas ações. Tento pôr a roupa a lavar menos vezes, usar cosméticos sustentáveis, não comprar nada que venha em embalagens de plástico, levar sempre os meus sacos quando vou às compras, ou uma garrafa de vidro para encher de água em fontes ou nascentes.
Claro que há muitas coisas que não consigo controlar. Por exemplo, por motivos de trabalho, sou obrigada a apanhar muitos aviões para ir ao continente, visto que muitos dos meus projetos não são na ilha. É o meu pequeno espinho.
P. Como foi trabalhar com a Hannun?
R. Gosto muito que a Hannun não tenha perdido a essência artesanal do começo. Quando estávamos a preparar este projeto, pedi que me enviassem uns pratos de cerâmica que vi no vosso site, e não foi possível, porque ao serem fabricados por encomenda, teriam de ser feitos do zero e isso demora algum tempo. Adoro esses detalhes.
Ao receber os produtos, fiquei muito surpreendida com a qualidade, por exemplo dos têxteis. Também gosto muito dos vossos produtos de cerâmica, acho-os muito semelhantes ao meu estilo de vida. Fotografiar para a Hannun foi muito fácil, porque os vossos produtos estão em harmonia com a minha casa.